sábado, 19 de fevereiro de 2011

as minhas ruas

Moro numa zona nobre de Lisboa. Daquelas que têm metro e autocarros, centros comerciais, supermercados, cafés e pastelarias, colégios, ministérios e institutos. Também tem três lojas chinesas, duas lojas de decoração, uma loja de tintas, duas ou três farmácias, alguns bancos, algumas livrarias, tabacarias e quiosques, uma charcutaria e uma loja de chás e cafés, prontos-a-comer, floristas, restaurantes, cinemas, um hospital privado e uma maternidade.
Um pouco mais longe, mas ainda no bairro, duas lojas de brinquedos. Ah, também tem uma fundação e um grande jardim que a circunda.
No fundo, é isto que faz do meu bairro uma zona cara de Lisboa.

Antigamente vivia noutra zona nobre, com um pequeno jardim, circunscrito por duas esplanadas, dois restaurantes, um supermercado e um pequeno estabelecimento nocturno que passa música portuguesa ao vivo.

Hoje habito um terceiro andar sem elevador. Antes, um primeiro andar sem elevador.

Quando a minha filha nasceu, habitava o primeiro andar sem elevador. Foi o tempo mais feliz da minha vida. Tinha acabado de descobrir, para meu espanto, que a vida fazemo-la nós. O chegar a casa relembro como se fosse sempre Primavera, as janelas abertas, as pessoas na rua. Aliás, o próprio prédio, como muitos em Lisboa, parecia habitar a rua, que se debruçava sobre ela. E eu, como uma velhota, debruçava-me com ele.

Hoje, eu e o meu prédio continuamos a debruçar-nos para a rua. É bonita. Tem árvores e prédios antigos, dos quais um belo exemplar de Arte Nova.
Mas não me sinto feliz aqui.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

o Zé

Primeiro, foi timidamente um senhor respeitável do FMI a falar sobre a necessidade de flexibilizar o mercado de trabalho. Depois, um honesto banqueiro, de nome alemão e apoiante do Cavaco e do Santana, a falar sobre o mesmo assunto (poucas horas depois), a seguir o inevitável homem de mão, o sujeito do costume, com o seu ar sério de fotografia, o peão, o pequeno homem das grandes causas, o homem do Iraque e das armas de destruição maciça (aposto que se te pedissem....) apresento-vos o "barrosão", o José Manuel Fernandes (aparece sempre).

Agora, Zé, são os instalados? Antes os desempregados, né? Antes e sempre os Funcionáros Públicos?

Ó Zé, até te compreendo. Há que ganhar a vida. Sempre recebes umas coroas, apareces nos jornais, sobes na vida (tens filhos para sustentar, imagino, ó Zé). Um gajo faz tudo pelos filhos. Precisam de emprego (num Gabinete, talvez?), um curso em NY ou em Londres. Eu também o faria. A sério. Sou pai.

Mas, em vez de deitares abaixo uns desgraçados (a grande causa) porque não te dedicas a lamentar a sorte dos que trabalham (logo, os instalados), que estão a recibos verdes, que têm filhos (como tu?), que não conhecem (como tu!) os grandes patrões, e que, de um momento para o outro, não pagam a casa, as prestações do carro, o PPR Leve (25 euros mês), a conta do gás, e por aí adiante?

Garanto-te, que se o fizesses (isto entre nós), te daria de bom grado uns vinte euros mensais (chamam-lhe lobby (é legal, não é?)), e arranjava mais meia dúzia dispostos a fazer o mesmo.

Junta-te a nós, Zé.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Greve

Não faço greve. Não deveria ser contra um governo (este governo), mas contra uma forma de governar (a nível europeu). Confesso que prefiro o PS ao PSD (que me assusta).

Só tenho pena que não me tenham dito, honestamente, que estamos nesta situação porque o povo serve os mercados (e não que os mercados existem para servir o povo). Só tenho pena que não tenham dito que os Funcionários Públicos são o bode expiatório mais à mão. Que o Ricardo Silva, o Fernando Ulrich, e mais meia dúzia de estado-dependentes valem mais do que dez milhões de pessoas. E, já agora, que o português afinal até trabalha um bocadinho e não merece o que lhe fazem e o que dele dizem.

Mas não faço greve. Convençam-me do contrário (o tempo está a acabar).

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Constituição

Disseram-me que o PSD propôs, em sede de revisão da Constituição, o fim da Educação e da Saúde tendencialmente gratuita e o despendimento por razão atendível. É uma brincadeira, certo?

Sabiam que em certos hospitais de gestão privada (disse-me uma senhora doutora) quando se acaba orçamento para drogas mais fortes (mais caras) se receita aos doentes com cancro Nimed (se calhar ben-u-ron)?

Sabiam que um doente com Sida custa ao estado por mês quase o que eu ganho por ano?

Sabiam que algumas ecografias que a minha mulher fez custaram 150 € no privado e que pelo menos uma lhe salvou a vida (o ordenado mínimo é de 450 €)?

O Dr. Coelho está a brincar, não está?

sábado, 26 de junho de 2010

Tributo

Professor, Dra., Dra., Prof., Dr., Dra., meu adorado bando de subversivos, quem Vos irá substituir? Geração em silêncio, que se pensava acomodada, quem vos irá substituir? O Vosso silêncio é de ouro, mas quem Vos irá substituir? Sr. Professor, sabia que o seu olhar triste foi para mim uma certeza? Menina Dra., sabia que as suas lágrimas encheram-me de alegria? Dr. cúmplice, sabia que me apeteceu, nesse olhar, ter dois metros e meio de altura e uma longa barba branca de sabedoria, para o envolver e, de certa forma, retribuir-lhe todo o conforto que me estava a dar?

Sra. Eng. e Sra. Dra., sabiam (e eu penso que sim) que todos os meus tesouros são Vossos?

Sr. Professor, sabia que não o conhecendo, hei-de contar a história de um certo Doutor que flutuava por cima de todos nós?

Obrigado a todos (a idade das certezas).

SNS

Não gostam do Serviço Nacional de Saúde? São ricos? Pensam vir a sê-lo?

Lusofonia

Sabiam que há um General neste mundo (não digo onde) que vai ler dois livros do Mário Carvalho? Sabiam que gosto muito desse General e do Mário Carvalho?